25 março 2006

Demasiado iguais - Esse é o verdadeiro problema...


“Ele humilhou-me, impediu-me de ganhar meio milhão, riu dos meus prejuízos, zombou dos meus lucros, escarneceu de minha nação, atravessou-se-me nos negócios, fez que meus amigos se afastassem, encorajou meus inimigos.
E tudo, por quê? Por eu ser judeu.
Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos às mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos? Se nos espetardes, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos derdes veneno, não morreremos? E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos?
Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão ofender a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo cristão? Ora, vingança.
Hei de por em prática a maldade que me ensinaste, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda”.

"O Mercador de Veneza", de Willian Shakespeare - Acto III, Cena I


Nota: Testemunho do judeu Shylock (interpretado por Al Pacino no filme "O Mercador de Veneza" de Michael Radford )em tribunal onde reclamava como compensação de um empréstimo não pago, meio quilo da carne do devedor, o cristão António (interpretado por Jeromy Irons). A corte veneziana terá que decidir da aplicação desta indemnização. Vale a pena ver o filme.

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